quarta-feira, 3 de junho de 2009

"Uma noite de almirante " analise por Wagner V Cruz



O que me chama atenção é o fato de interpretar determinados textos literários, e que este tipo de estudo nos faz aceitar a língua e o pensamento como a forma mais democrática de expressar o seu ponto de vista, baseado nesta filosofia e acreditando que vivemos em um país de grande expectativas futuras, tive uma visão diferenciada sobre o que aconteceu no conto de Machado de Assim "Uma noite de almirante" que assim analisei:



Análise do conto “Noite de almirante” de Machado de Assis





Wagner Vieira Cruz





Antes de analisarmos a história, devemos perceber que a sociedade é capaz de transformar a vida das pessoas que a cerca. Nesta sociedade, os valores sociais são mais importantes que os valores emotivos, é uma retórica na forma de vida com grandes desigualdades sociais.


Pois bem, os protagonistas têm uma congruência de conduta e que o narrador é onisciente sobre uma temática, e não é onipresente, conta a história do seu próprio ponto de vista, entretanto, não está em todos os locais, principalmente no espaço psicológico das personagens, portanto incapaz de tornar público todos os enlaces da história de forma geral. Neste caso, talvez não soubesse que Genoveva englobada em uma vida social difícil tivesse mentido em dizer que se apaixonara por Deolindo, encobrindo assim suas reais pretensões em ascensão social, reflexo dos relacionamentos por conveniência, pratica até hoje usada entre pessoas de diferentes classes sociais. Da mesma forma que o marinheiro se enganara em achar-se apaixonado pela donzela, talvez pela sua aparência “venta-grande” não despertar a atenção das mulheres, o que foi o contrário com Genoveva que se considerava apaixonada por ele.


O narrador por sua vez, não participa do conto como personagem, porém está sempre instigando o leitor a enxergar a mulher como vilã da história, não deixando espaço para uma análise mais apurada dos fatos, logo no início diz: “ele deixaria o serviço e ela o acompanharia para a vila mais recôndita do interior”, mostrando que a “paixão” no seu auge faz com que tomem decisões precipitadas ou que a pressa de uma mudança de vida tenham outras proporções, que ambos, com pretensões opostas quisessem resolver logo o seu problema, ele por não ser atrativamente desejado e ela por questões sociais, haja vista que morava em uma pobre casa que não a pertencia.


Quanto à promessa, também percebemos não existir, que foi forçada, vejamos o diálogo:


- Deolindo: Juro por Deus que está no Céu. E você?


- Genoveva: Também.


- Deolindo: Diz direito.


- Genoveva: Juro por Deus que está no Céu; a luz me falte na hora da morte.


Embora no texto não especifique quem começou o dialogo, acreditamos ter sido o Deolindo pelo valor que ele deu em enfatizar que havia um compromisso que foi quebrado por ela.


O que observamos foi uma insistência maior dele do que dela. Por quê? Talvez por ela não ter levado em consideração a promessa, conseqüência disso é que mais tarde Genoveva irá morar com outra pessoa.


O fingimento torna-se vital para os dois personagens, ela abandona a promessa por duvidar do amor do marinheiro e que seu relacionamento perdurasse e almejando uma qualidade de vida melhor, supostamente pelas dificuldades enfrentadas, resolve mudar-se para a casa do Mascate. Deolindo ao ser absorvido por uma paixão, quem sabe até única em sua vida e com fortes influências de seu primeiro amor, ao se defrontar com a desilusão, preferiu mentir para os seus companheiros e preservar assim a imagem de uma noite de almirante na companhia de sua amada.


O narrador, por sua vez, sempre instiga o leitor a observar os indícios de infidelidade de Genoveva, entretanto não relata as dificuldades da sua vida na ausência de Deolindo, não relata suas decepções, solidão e necessidades. Mesmo quando descreve as suas explicações pelo abandono mostra de forma que subentende a sua frieza e dissimulação, produzindo assim aos olhos do leitor, uma pessoa vulgar.


Ora, se ela não era casada não podia se apegar a uma promessa que ela própria não acreditava. Diante da dúvida de um relacionamento condenado ao fracasso, optara por viver com aquilo que a vida lhe proporcionara e a melhor opção no momento seria aceitar o pedido do Mascate e ir morar em sua casa, pelo menos aparentemente estava estabelecida. A fidelidade dele não foi posta em evidência, pois, em nenhum momento ele foi assediado, o narrador apenas informa que em suas viagens algumas mulheres podiam ser do seu agrado, porém, não mostra nenhum reciprocidade, talvez por ele não ser atraente, e se ele tivesse sido assediado? Será que teria recusado? O que não aconteceu com ele, aconteceu com ela.


Genoveva acreditando que ele não mais voltaria; a necessidade de mudar de vida; o efeito da solidão; a incerteza de um futuro foram motivos mais do que reais para que ela abandonasse a promessa e resolvesse dá uma chance para o Mascate e para ela mesma, pois, estaria saindo de uma vida miserável para uma melhor e ainda seria amada por um homem.


Acredito que o narrador foi o maior vilão por induzir o leitor a recriminar a conduta da mulher em detrimento dos preceitos do homem, sendo que em uma analise mais detalhada observamos que ambos fingiram suas reais pretensões e que a trama foi ritmada com um propósito de induzir o leitor ao ponto de vista que Genoveva fosse considerada leviana, principalmente no episódio do brinco que Deolindo após ouvir as explicações de Genoveva teria retirado do bolso um brinco a tivesse presenteado, acreditamos que essa atitude teve um caráter mais apelativo do que emotivo; uma forma de chantagem emocional para convencê-la do seu pecado, em uma atitude egoística de se apresentar como vítima em conseqüência do suposto adultério.


Por fim, tanto Genoveva quanto Deolindo foram infiéis. Acreditamos que um quis enganar o outro. A problemática ficou no valor que cada um deu a suas pretensões: ele, por carência afetiva; ela, por estabilidade. A infelicidade dela foi que sua máscara caiu primeiro e que o fato foi contado talvez por um homem de melhores condições socioeconômicas que as deles. Não tendo sensibilidade para analisar a vida de cada um, tomou partido pela figura masculina, condenando a outra parte pela quebra de um contrato verbal sem perspectiva de futuro.