sábado, 23 de outubro de 2010

VARIAÇÃO DIALETAL DO JOGADOR

A IMPORTÂNCIA DA VARIAÇÃO DIALETAL NA FALA

DO JOGADOR DE FUTEBOL

Wagner Vieira Cruz

RESUMO

Podemos entender que a linguagem do futebol tem uma imagem pouco convencional e que isso repercute no meio lingüista e geralmente não são vistos com bons olhos, devido a um preconceito por parte da sociedade, chegando até a entendê-la como “erros” ou “vícios”. Permitindo-nos dizer que esses fatos ocorrem face ao grupo social que os jogadores estão inseridos, passíveis de discriminações, porque, na sua maioria, são providos de condições mínimas de escolaridade. Entretanto, qualquer grupo lingüístico tem sua parcela de importância para com a língua, contribuindo na maturação da sociedade como um todo. O esporte passa a ser um fator relevante por interagir com todas as relações das camadas sociais, especialmente o futebol, por comportar a maior preferência da modalidade esportiva do país, possuindo características atípicas e expressões pitorescas de outras línguas e da própria língua portuguesa, enriquecendo e adequando-se à língua nativa mais rapidamente. Este artigo traz em seu bojo expressões, dialetos, discursos pertinentes à forma de expressões dos jogadores de futebol e profissionais da área, com o intuito de enfocar a valorização dessa variante lingüística, uma vez que ela vai além do gramado até atingir o cotidiano da sociedade brasileira, com a tentativa de abreviar uma linguagem cheia de preconceito que ultrapassa o aspecto lingüístico até o social, uma vez que os usuários ainda são vitimas

de preconceito.

Palavra-Chave

: dialetologia, futebol, sociolingüística.

ABSTRACT

We can understand the language of football has an unconventional image and that this affects the way a linguist and are not generally frowned upon because of a bias on the part of society, reaching even to understand it as "errors" or "vices" . What led us to say that these things happen over the social group that the players are entered, subject to discrimination because, mostly, are provided minimum conditions of schooling. However, any linguistic group has its share of importance to language, contributing to the maturation of society as a whole. The sport becomes a relevant factor to interact with all the relations of social groups, especially football, because it contains the most preferred sport of the country, having atypical features and picturesque expressions of other languages and the actual language of the Brazilian people, enriching and adapting to the native language faster. This item back in its core expressions, dialects, discourse pertaining to the form of expressions of football players and professionals in order to focus on the valuation of this linguistic variant, since it goes beyond the lawn to reach the everyday Brazilian society with the attempt to shorten a language full of prejudice that goes beyond the linguistic to the social aspect, since users are still victims of prejudice.

Keywords

: Dialectology, football, sociolinguistics

1. Introdução

As línguas são as ferramentas mais preciosas que o homem possui, pois, possibilita comunicar-se com os seres humanos de todo o planeta, assim sendo, passível de mudanças, sofrendo constantemente inserções umas das outras as tornando vivas e heterogêneas.

A Língua Portuguesa não é diferente, segundo Cunha e Cintra (1985) afirmam que na enorme área de atuação do Português, o idioma varia quanto a pronuncia, à gramática e o vocábulo. Percebemos sua veracidade nas diferentes formas de expressões, nas diferenças entre o uso da língua e a norma culta e ainda nos valores semânticos das palavras e até mesmo nos dialetos e idioletos dos falantes.

O acervo da Língua Portuguesa é riquíssimo, justificado pelo fato da entrada e saída de migrantes, imigrantes que move todo o sistema sócio-econômico do Brasil, assim, as variantes chegam a todos os falantes, com o futebol, isso também ocorre, o estilo lingüístico sofre essas inserções de todos os setores especialmente de uma classe denominada baixa, resultando em um tipo de preconceito, pois é comum ouvir especulações em torno do jogador ou profissional da área com um intuído de depreciálo lingüisticamente, com prováveis “erros” gramaticais ao falar, o que não é comum é perceber que a variação da linguagem do jogador apresenta um vocábulo bastante diversificado e rico, com expressões usadas no dia-a-dia que vão encaixando ao léxico da Língua Portuguesa.

O que pautamos com esse trabalho é observar e detectar a variante inserida na fala dos jogadores de futebol e profissionais da área a partir das gravações, coletados em entrevistas in loco bem como sítios da internet ou gravações de rádio e televisão, além disso, possibilitar um entendimento aprimorado da ocorrência desses fenômenos lingüísticos.

Urgem abrir nossas mentes para desvincular da vida atual do Brasil, conceitos de que o falante deva utilizar-se de uma norma-culta sem a inserção das variantes, considerada pelos gramáticos como “erros”, ainda arraigadas na maioria dos falantes que possuem certo nível de escolaridade, não se detendo que a língua é ativa e envolvente e carecendo de espontaneidade e criatividade para enriquecer um idioma.

O artigo terá em primeira fala um comentário sobre a evolução do futebol, resumo histórico da cidade de Juazeiro do Norte - Ceará e do estádio Mauro Sampaio “O Romeirão”, foco de maior circulação de jogadores, uma vez que a cidade contém apenas dois times de futebol profissional, seguido de fatos de algumas expressões comprobatórias da riqueza lingüística e a aceitabilidade de expressões usadas no cotidiano.

2. Origem do futebol

A origem do futebol é incerta, entretanto, encontramos relatos de 3000 a.C, que na China Antiga, os soldados dividiam-se em equipes para chutar as cabeças dos inimigos, e com um tempo, as cabeças foram substituídas por bolas de couro e cabelo.

Eles então se dividiram em duas equipes de oito componentes, cada, e jogavam a bola de pé em pé, sem deixá-la cair, levando-a até duas estacas fincadas no campo, sendo as mesmas, ligadas por um fio de cera, em forma retangular.

No Japão Antigo, foi inventado um esporte similar ao atual futebol, cujo nome era Kemari, sua prática era por membros da corte, o qual ocorria em um campo de 200 metros quadrados, a bola era de fibra de bambu, composta de duas equipes de oito jogadores, cada, e entre as regras, o contato físico era proibido.

Os gregos também tiveram participação na composição histórica de um esporte ramificado ao futebol. Por volta do século I a.C. eles constituíram um esporte de nome Episkiros. Esse esporte era composto de duas equipes de nove jogadores, cada, que jogavam em um terreno retangular.

Criado pelos militares espartanos, que usavam uma bola feita da bexiga do boi, recheada de areia ou terra, outra modalidade de esporte era praticada, sendo que a área requeria um espaço maior, pois, o jogo era entre duas equipes de quinze jogadores, cada. Com a dominação romana sobre a Grécia, e após o contato com a sua cultura, os romanos aderiram ao esporte grego, assimilando-o, porém, com características mais violentas.

Na Idade Média, usada também por militares, duas equipes formadas de 27 jogadores, cada, em um jogo chamado de Soule ou Harpastum, em que os jogadores se enfrentavam em uma violenta disputa, permitido, inclusive, socos, pontapés, rasteiras e outros “golpes”, sua formação era pouca parecida com o futebol, por exemplo, atacantes, defensores, corredores, dianteiros, sacadores e guardadores.

Por sua vez, na Itália Medieval, um jogo de alcunha gioco del cálcio, composto, também, por 27 jogadores em cada equipe, tinham o intuito de levar uma bola até dois postes localizados nos extremos da praça. Neste esporte, a exemplo da Idade média, era também permitido, usar de violência, uma vez que os integrantes levavam consigo problemas de cunho social, típico da era medieval, a desordem era tamanha que levou o Rei Eduardo II a proibir a sua prática, contudo, a nobreza, reinventou o esporte, excluindo a prática agressiva, sendo inclusive, acrescidos doze juízes os quais deveriam impor as novas regras.

Na Inglaterra, no século XVII, segundo pesquisas, aprimora o esporte italiano, organizando-o e alterando suas regras para sistematizá-lo. Nessas alterações o campo para prática do referido esporte teria 120 por 180 metros, nos extremos, seriam colocados arcos regulares e nomeados de gol, a bola seria de couro e enchida com ar, suas regras, seriam mais claras e objetivas. Com isso iniciou-se, sua prática, por estudantes e filhos dos nobres, tornando-se popular paulatinamente.

Organizado sem violência e mais próximo da população, o futebol teve uma aceitação e em 1848, em uma conferência em Cambridge foi estabelecido apenas um código de regra para o futebol. Em 1871, foi criado o goleiro (um jogador que era permitido tocar com as mãos na bola devendo jogar próximo ao gol). Em 1875, o tempo de jogo passou a ter 90 minutos. Em 1891, foi criado o pênalti (penalidade com um chute a nove metros do gol como punição dentro da área). Por último, em 1907, foi criada a lei do impedimento.

O futebol como esporte profissional só apareceu em 1885, na Inglaterra, sendo criada a Internacional Board, instituição que deveria estabelecer as novas regras quando necessário. A primeira equipe profissional foi chamada de Corinthians, contribuindo para difundir a modalidade em toda Europa. Em 1888 a Football League foi criada para organizar campeonatos e torneio internacionais.

Sendo somente em 1904 é criada a FIFA (Federação Internacional de Futebol Association) organiza o futebol até os dias de hoje. A nova instituição passou a organizar os maiores campeonatos do mundo com a Copa do Mundo (realizada de quatro em quatro anos), Copa Libertadores da América, Copa da UEFA, Liga dos Campeões da Europa, Copa Sul-Americana e outros.

3. Futebol no Brasil

O relato mais contundente foi que o futebol brasileiro nasceu quando Charles Miller, filho de um empregado de uma ferrovia, foi à Inglaterra e familiarizou-se com o futebol, de regresso ao Brasil, em 1895, trouxe consigo duas bolas e junto com os expatriados britânicos da cidade de São Paulo e jogadores de críquete (parecido com o basebol) converteu o então os jogadores para o futebol, criando o primeiro time do Brasil.

Esse esporte tornou-se muito divulgado e rapidamente aceito entre os brasileiros, tornando-se, em pouquíssimo tempo, o esporte mais praticado e hoje considerado o melhor do mundo. Mais de dez mil jogadores brasileiros o praticam por toda parte do planeta.

No entanto, existem outras versões de origem futebolística no território nacional, como por exemplo, indícios que marinheiros estrangeiros, em 1874, haviam realizado jogos de futebol em praias do Rio de Janeiro. Em 1878 tripulantes do navio Criméia, competiram em uma exibição para a Princesa Isabel, e tantas outras histórias, pouco confirmadas.

O que podemos afirmar com exatidão foi que em 1902 foi realizado o primeiro Campeonato Paulista de Futebol e, que a equipe do São Paulo Atletic sagrou-se campeão, vale salientar que essa equipe não é a mesma que atua em São Paulo atualmente, a partir daí, outros times foi formado, sendo apenas São Paulo e Rio de Janeiro os detentores de times mais estruturados como o Botafogo Football Club e Clube Regatas Vasco da Gama.

O maior passo da historia futebolística do Brasil foi dado em 1933 com o profissionalismo desse esporte, inicialmente em São Paulo e Rio de Janeiro, com esse passo o Brasil destaca-se e parte para o então reconhecimento a níveis mundiais, com seus esquemas táticos e técnicos, a seleção de futebol do Brasil atinge seu ápice nos mundiais disputados selando sua superioridade ao conquistar, em 1970, o Tricampeonato mundial de futebol e a conquista definitiva da Taça Jules Rimet (nome dado à taça das Copas do Mundo da época).

Deste ponto em diante percebemos uma força cada vez mais crescente envolta da evolução do futebol, passou de um esporte militar e da nobreza para as classes sociais mais inferiores, popularizou e conquistou o espaço mundial, no Brasil, permitiu não apenas diversão e laser, mas, possibilitou a ascensão social de uma classe sem grandes proporções de melhoras, ficou tão próxima do povo, que o país refere-se a ele como “paixão nacional” e transformou o Brasil na “pátria de chuteiras” ou até mesmo “o país do futebol”.

Esse esporte é tão grandioso que os pesquisadores de mais renomados conhecimentos e de diversos campos de análises, bebem da sua “magia” e entusiasmo para observação de emoções, gestos, comportamentos, sensações sentidas e sofridas durante uma partida de futebol.

4. Breve histórico da história do Juazeiro do Norte

O povoado chamado de Tabuleiro Grande, antes pertencente a cidade de Crato – Ce, posteriormente, deu origem a cidade de Juazeiro do Norte, teve seu marco inicial em 15 de setembro de 1827, coincidentemente com a data de lançamento da pedra fundamental da capela de Nossa Senhora das Dores, padroeira do lugar. No entanto, a cidade foi fundada pelo então pároco da capela, Padre Cícero Romão Batista, sendo o mesmo, o primeiro prefeito, em 22 de julho de 1911.

O nome Juazeiro originou-se de uma árvore, muito comum no Nordeste do Brasil que tem resistência às épocas de secas mais ríspidas permanecendo sempre viçosa, com o nome científico de Ziziphus Juazeiro, a etimologia da palavra é híbrida, tupi-portuguesa: juá ou iu-á que significa fruto de espinho com o acréscimo do sufixo eiro.

Tem uma extensão territorial de apenas 249 Km2 e uma população estimada em cerca de 250.000 habitantes de acordo com o IBGE, a cidade conta com uma economia diversificada entre agricultura, pecuária, indústria de mais variadas como sandálias de plástico e couro, bebidas, refrigerantes, alumínio, alimentos, confecções, móveis, jóias e laticínio, entre outras. O artesanato é um dos mais ricos e variados do Brasil. O comércio lojista é bastante sofisticado, conta ainda com uma educação extensa, tanto publica quanto particular, nos três níveis de ensino. A cidade possui muitos atrativos turísticos, sendo, por isso, visitada por romeiros e turistas do Brasil e do Exterior, numa média anual superior a um milhão de visitantes. A rede hoteleira conta com hotéis confortáveis, afora dezenas de ranchos para hospedagem de romeiros. A maioria da população está instalada na parte urbana da cidade, composta de pessoas de muitas regiões, a população é bastante heterogênea, inclusive, vindos residir em Juazeiro do Norte - Ce devido a sua romaria pela fama do milagre do Padre Cícero, que é reconhecida em todo o país.

Esta cidade é conhecida pela religiosidade e crença em um fato extraordinário vivenciado em 1 de março de 1889, transforma a vida dos habitantes do lugar quando em uma missa celebrada pele Padre Cícero a beata Maria Magdalena do Espírito Santo de Araújo ao receber a Comunhão não pode degustar, pois, a hóstia havia transformado em sangue, tal fato, foi repetido por diversas vezes, divulgado em todos os lugares, inclusive em Roma, mesmo com a recusa da Igreja Católica sobre o milagre, a verdade é que o Padre tornou-se santo pela opinião popular e começaram, então, as romarias, crescente a cada ano, até os dias de hoje.

A cidade de Juazeiro do Norte é uma das maiores do Nordeste, sendo a mais importante do Sul do estado, com um pólo industrial permanentemente em ascensão e bem estruturado, pois, fazem parte de um entroncamento entre os estados de Piauí, Pernambuco, Rio grande do Norte e Paraíba.

5. Estádio Mauro Sampaio – O Romeirão

O estádio Mauro Sampaio, popularmente conhecido como “O Romeirão”, foi construído pela Prefeitura Municipal de Juazeiro do Norte, na administração do Prefeito Mauro Sampaio, o qual inaugurou com o seu próprio nome, ato normalmente aceito pelos políticos brasileiros, em 1970. Teve seu primeiro jogo entre as equipes do Fortaleza (CE) e Cruzeiro (MG), nas comemorações do dia do trabalho, no qual se sagrou vencedor a equipe de Minas Gerais pelo placar de 3 a 0.

Na época, o Juazeiro não dispusera de nenhuma equipe profissional de futebol, assim sendo, o estádio era utilizado pela Liga Desportiva Juazeirense que realizava campeonatos amadores. Somente em 1973, o Icasa, tornou-se profissional e realizar partidas oficiais, sendo seguido pelo time do Guarani. O recorde de público foi no ano de 1977 em uma partida amistosa entre o combinado Icasa-Guarani e o time do Fluminense do Rio de janeiro, com aproximadamente 24 mil torcedores, cuja partida terminou em empate de 2 a 2.

Nos últimos anos o Estádio de Futebol Mauro Sampaio, o Romeirão, é representante do futebol do interior do Estado do Ceará, com o Icasa, em vários campeonatos importantes, como Campeonato Brasileiro da Segunda Divisão, Copa do Brasil e Campeonato Cearense da Primeira Divisão, conquistando o seu espaço no cenário futebolístico nacional.

6. As pesquisas sobre o falar dos jogadores do futebol

Para que possamos analisar de uma forma mais globalizada, partiremos da análise dos discursos protagonizados pelos profissionais da área e em seguida explanaremos mais detalhadamente sobre as variantes detectadas nas entrevistas realizadas com os jogadores do Icasa na cidade de Juazeiro do Norte.

A análise do discurso partiu da linha francesa AD, que segundo Maingueneau (1989) surgiu na década de 60, integrada a uma prática de explicação textual, visando a interdisciplinaridade articulando a concepção dos fundamentos da teoria da Lingüística, Materialismo Histórico e a Psicanálise.

Segundo Pêcheux (1990), a Lingüística sustentando a teoria da enunciação está situada no espaço/tempo assumindo relações de reciprocidade e interação; o materialismo histórico, sendo a representação do indivíduo como membro de uma classe social ou grupo, porém, não tendo autorização para representá-la, sendo sua participação social determinada pelo nível de qualificação. Já Orlandi (1983), fala da psicanálise como o processo de representação do referente textual, pertencente a um grupo com o sujeito na visão de ser uno, portanto, ao pronunciar o enunciado, preocupase com o que já fora dito a outros discursos.

As variantes foram analisadas as isoglossas diatópicas, diastrásticas e diafásicas, por entender que os falantes de uma mesma língua, mas, de regiões distintas, tenham características lingüísticas diversificadas e se pertencem a uma mesma região também não falam da mesma maneira tendo em vista os diferentes estratos sociais e as circunstâncias diversas de comunicação. (Apostila. P. 12).

7. Análises

A análise desse artigo foi realizada a partir dos recortes das entrevistas realizadas entre os jogadores e profissionais da área futebolística. Quanto à natureza do discurso do Técnico, a partir de uma entrevista cedida a dois repórteres de rádio, podemos assim destacar:

7.1 Dos discursos

Discurso militar:

(1) “Todo o grupo tá preparado pra jogar (...) como o D. joga bem pelo lado direito e tem uma pegada forte (...) tem condição de anular o atacante que se mexe muito bem pelo aquele lado (...) então vai ser juventude contra juventude, força contra força e esperamos que agente tenha melhor desempenho” (Entrevista).

No discurso militar, é enfatizada a competição como se fosse uma guerra. No enunciado acima o técnico compara a partida de futebol como uma batalha em que o jogador vai enfrentar uma luta ao qual ganhará o “jogador guerreiro” que for mais forte.

Discurso operário:

(2) “Em 1 ano e 4 meses de trabalho, o grupo ia cair de rendimento, mas, estamos trabalhando, dando confiança ao atleta, dando moral para que ele possa superar” (Entrevista).

Na entrevista com o Técnico, ele usou bastante esse discurso, com o uso da palavra “trabalhar” e suas variantes para designar a sua profissão. O curioso nos nossos dias, é que a sociedade ainda não vê o futebol como profissão, pois, nas famílias, os filhos são repreendidos pelos pais para largar a bola e estudar para conseguir uma profissão.

Discurso misticismo:

(3) “Como ele já mostrou que é um jogador que tem talento e que tem sorte, né? Que é importantíssimo num jogador, pode ser que entre ainda nesse ano e corresponda a expectativa” (Entrevista).

Uma característica do misticismo é definida por um tipo qualquer de crença que admite o contato do ser humano e Deus ou algo divino, no caso do enunciado o jogador precisa ser portador de “sorte” sendo algo metafísico incapaz de ser adquirido de forma material, comprada ou por exercício.

Apesar de ter sido detectado somente esses discursos ainda estão presentes, no futebol, vários tipos de discursos no universo oral dos jogadores e profissionais da área como:

Discurso de festa:

“O Romeirão nesta tarde de domingo está colorido, bonito e com um barulho ensurdecedor”.

Discurso de tempo:

“O clima está pesado em campo”.

Discurso religioso:

“Graças a Deus hoje eu tive a oportunidade de marcar e ajudar a

equipe”.

Discurso de tensão:

“Já passou a ansiedade dos 15 minutos iniciais e agora a equipe está mais solta”.

7.2 Dos dialetos

Para analisar os dialetos foi utilizada a língua histórica, foram abordadas três diferenças internas: as diatópicas, as diastráticas e as diafásicas.

Como definição:

Diatópica são as diferenças lingüísticas quanto ao espaço geográfico, podendo delinear contrastes e conseqüentemente apontar semelhança no espaço geográfico.

Diastráticas diferenças entre diferentes estratos socioculturais de uma mesma comunidade idiomática.

Diafásicas são as diferenças entre as modalidades expressivas, de estilo distinto, segundo as circunstâncias em que se realizam os atos de fala.

Foram feitas três entrevistas para a análise dos dialetos, o qual iremos referir-se ao corpus por Jogador 1, Jogador 2 e Jogador 3.

Jogador 1.

36 anos, Ensino Médio completo, residente em Barbalha, já morou no Rio de Janeiro, tem dois filhos, 14 anos de profissão, jogou em diversos times: Botafogo (RJ), Fortaleza, Ceará, Bragantino, Esporte Recife e ABC de Natal.

Trechos da entrevista realizada em 06/08/2010 no Estádio “O Romeirão”.

(4) “Eu fui “vendido” (vindido) daqui em 99, né?”

(5) “Aqui nós (nois) fomos (fomo) campeões (campeão) estadual pelo Ceará em 2002, Fortaleza, 2005, pelo ABC, 2008, pela aqui nós (nois) ganhamos (gaiamo) a segundona esse ano, né?”

Análise do Jogador 1:

Diatópica

: (Característico da fala regional (cearense))

Em (5) iotização do "nh", em algumas situações, na sílaba medial () e, principalmente, na sílaba final com frequente apagamento da última vogal, geralmente [] "ganhamos" [gãjãm]

Diastrática

: (Característica sociocultural)

Em (5) as variantes: nós para nois; fomos para fomo; campeões para campeão.

Diafásicas

: (Características de estilo)

Em (4) e (5) no final da frase a expressão “né?”, característico da variante cearense também é bastante utilizada pelos jogadores de futebol.

Jogador 2:

32 anos, natural de Acopiara - Ce e reside na cidade de Juazeiro do Norte há 14 anos, casado, com nível de escolaridade segundo grau completo e com um nível social médio.

Esse jogador desde criança sempre foi apaixonado por futebol, e finalmente depois de adulto conseguiu fazer parte de uns três clubes de futebol sempre jogando como zagueiro, foi um curto período como jogador só durou 2 anos, pois o mesmo sofreu uma lesão no tornozelo, e teve que se afastar de sua profissão, como sempre jogou em times pequenos, ele jogava por um único motivo: a paixão pelo futebol, jogava por prazer, pra relaxar e para ganhar títulos, se destacou bastante ganhou várias medalhas e troféus.

Análise do Jogador 2.

Diatópicas

:

O jogador falava devagar, meio arrastado, típico dos cearenses, e algumas palavras muita conhecidas por pessoas da região.

Camarada - cara - aceiro- xingar- im

Diastráticas

:

Foi usada uma linguagem popular.

Pruveito – primero – atrapalhano - a repetição de algumas palavras na mesma frase,

como: cinco meses, cirurgia, bastante, e.

Diafásicas

:

Nessa variação encontra-se o t

ecnoleto

que é a função que um indivíduo desempenha, profissionalmente falando, exige-lhe o domínio de um tecnoleto.

Futebol – carreira – atleta – gol – copa – treinador – jogadores – correr.

Jogador 3

28 anos, natural de Caririaçu – Ceará, profissional há três anos, solteiro, ensino fundamental incompleto.

Trechos da entrevista realizada em 08/08/2010 em Caririaçu – Ceará.

Análise do Jogador 3.

Diatópicas

:

“Destruiu a carreira cara um salaro de duzentos mil né não? Eu com um salaro desses minha vida tava feita”

Diastráticas

:

Podemos observar que a linguagem utilizada pelo informante foi uma linguagem bastante popular. Constatamos as variantes em algumas expressões utilizadas na entrevista.

Melhor (mior)

Menina (minina)

Goleiro (golero)

Salário (salaro)

Estamos (estamo)

Diafásicas

:

Encontramos as seguintes expressões:

Expectativas

Bola toda

O palavrão toma de conta

Nessa variação encontra-se o

tecnoleto

que é a função que um indivíduo desempenha, profissionalmente falando, exige-lhe o domínio de um tecnoleto.

Alguns dialetos peculiares do meio futebolístico:

Chute – Tocar na bola com o pé.

Matar no peito – parar a bola com o peito.

Chapéu – tipo de acrobacia com a bola.

Gol – ponto máximo do futebol

Pênalti – punição por falta dentro da área do gol.

Escanteio – saída por uma das pontas do retângulo que delimita a área do jogo.

Meia lua – semicirculo que se localiza em um lado da área maior do gol.

Gandula – auxiliar que recolhe a bola quando ela sai da área do jogo.

Certame – temporada de jogos

8. Considerações finais

Por ser a linguagem futebolista, vitimas de preconceito, abordamos nos exemplos do artigo, termos bastante comuns no cenário atual e aceito na fala não só desse profissional, mas, aceita pela população brasileira, por acreditar que não deva existir preconceito e passarmos a enxergar que a língua é a forma mais democrática e variada que uma comunidade de falante dispõe.

Sabemos, entretanto, que a sociedade impõe certas regras e as cobram, dessa forma, existe um modelo padrão, contudo, a fala é adequada ao convívio social, ou seja, um indivíduo se expressa de determinadas formas e proporcional ao ambiente em que ele está inserido.

Por isso, uma variedade lingüística adquire maior valor de acordo com o valor em que é atribuído ao grupo de falantes, ou seja, se os falantes de um terminado grupo são valorizados socialmente, suas variações também as são, assim, a língua está para o homem, assim como a variação está para a vida social.

Embora este trabalho não tenha sido extremamente completo no que diz respeito ao estudo da linguagem, ele traz grande contribuição aos estudiosos no assunto, interessados na linguagem futebolística e seu léxico e, especialmente, a professores comprometidos com a Sociolingüística aplicada ao ensino da Língua Portuguesa.

9. Referências Bibliográficas

CUNHA, Celso; CINTRA, Lidney.

Nova Gramática do Português Contemporâneo

. 2ª ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1985.

DEBAKEY, M. História do futebol. Disponível em: . Acesso em 04 ago. 2010

MAINGUENEAU. D.

Novas Tendências em Análise do Discurso.

Campinas SP: Pontes, 1987.

PÊCHEUX, M. Análise automática do discurso (AAD-69). In GADET, F. e HAK, T. (org.). In

: Por uma análise automática do discurso

; uma introdução às obras de Michel Pêcheux. Campinas: Ed. da Unicamp, 1997. (Título original: Analyse Automatique du Discours. Paria, 1969)

http:/www.suapesquisa.com/futebol/. Acessado em 04 ago. 2010

http://www.juazeiro.ce.gov.br/index.php?Pasta=paginas_site&Pagina=pag_cidade&MenuDireito=1. Acessado em 04 ago. 2010.

http://www.ibge.gov.br/cidadesat/topwindow.htm?1. Acessado em 04 ago. 2010.

http://www.icasafc.com/index.php?id=3. Acessado em 04 ago. 2010

ORLANDI, E. P. O Discurso pedagógico e a circularidade.

A linguagem e seu funcionamento

: as formas do discurso. São Paulo. Brasiliense, 1983.

www.museudalinguaportuguesa.org.br/.../resources/file/eb7784008923db4/3.GALERIA%20FUTEBOL.pdf?MOD=AJPERES. Acessado em 04 ago. 2010

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Lingua e escrita

Diante do que se espera de uma língua temos que considerar a variante, pois cada indivíduo tem sua própria forma de expressar, assim sendo, “nenhuma língua é falada do mesmo jeito em todos os lugares”.


Entre a escrita e a fala existe um paralelo e que a análise desde dois fenômenos, há uma “supervalorização da língua escrita combinada com o desprezo da língua falada, é um preconceito que data desde antes de Cristo”.

Sendo assim, os gramáticos entendem que a forma correta de fala é projetá-la conforme a escrita, isso, no que diz respeito à língua portuguesa e, aconselham os professores, a corrigir as variações lingüísticas como “erros”. O curioso é que a própria gramática cega ao entender que tais variações têm o cunho social e sua aquisição, de certa forma, faz parte da formação intelectual do indivíduo, neste caso, não se pode fazer isso tentando criar uma língua “artificial” e reprovando como “errada” as pronúncias que são resultados naturais das forças internas que governam o idioma.

É sabido que deve existir uma ortografia única para que se tenha uma melhor assimilação e padronização da língua em um determinado país, entretanto, cabe ao educador, traçar a melhor maneira para exemplificar e transmitir a norma culta sem “atropelar” a forma coloquial substituindo-a gradativamente para que o indivíduo não frustre a aquisição da nova gramática.
Diante do que foi apresentado podemos dizer que a gramática como um todo é a representação gráfica da fala, claro que esta representação não retrata com fidelidade a pronuncia da forma que se deseja transmitir, por exemplo, se escrevermos uma palavra, ela não será capaz de mostrar o sentimento que queremos, a palavra “socorro” pode ser um pedido de ajuda ou um nome próprio e a palavra “fogo” tem várias maneiras de ser interpretada, com vários sentido, no entanto, a escrita tem pouquíssimas, formas de expressá-la, ficando a critério do autor, escrever o sentido que o leitor deverá exprimi-la.

Um fato que se deve levar em consideração é que a idade da escrita é muito inferior à idade da língua e mesmo assim os seres humanos conseguiam se comunicar, formar sociedades organizadas sem o intermédio da escrita e, ainda hoje, as pessoas “nascem, crescem e morrem sem jamais aprender a ler e escrever e, no entanto, ninguém pode negar que são falantes perfeitamente competentes de suas línguas maternas”.

Vale salientar que a gramática foi estabelecida com o compromisso de analisar as normas da língua escrita com o objetivo de resguardar as formas mais corretas e elegantes da línguagem literária, uma vez que o significado da palavra “gramática”, de origem grega, é a “arte de escrever” e não havendo elo com a forma oral.

Concluímos então que, tanto a língua quanto a fala, merecem o mesmo tratamento e se por um lado a gramática nos impõe seus símbolos e regras por outro o senso de liberdade de expressão nos tornam livres para deliberar a melhor maneira e convivência para aprimorar a escrita sem desvalorizar suas variações lingüísticas.