sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Lingua e escrita

Diante do que se espera de uma língua temos que considerar a variante, pois cada indivíduo tem sua própria forma de expressar, assim sendo, “nenhuma língua é falada do mesmo jeito em todos os lugares”.


Entre a escrita e a fala existe um paralelo e que a análise desde dois fenômenos, há uma “supervalorização da língua escrita combinada com o desprezo da língua falada, é um preconceito que data desde antes de Cristo”.

Sendo assim, os gramáticos entendem que a forma correta de fala é projetá-la conforme a escrita, isso, no que diz respeito à língua portuguesa e, aconselham os professores, a corrigir as variações lingüísticas como “erros”. O curioso é que a própria gramática cega ao entender que tais variações têm o cunho social e sua aquisição, de certa forma, faz parte da formação intelectual do indivíduo, neste caso, não se pode fazer isso tentando criar uma língua “artificial” e reprovando como “errada” as pronúncias que são resultados naturais das forças internas que governam o idioma.

É sabido que deve existir uma ortografia única para que se tenha uma melhor assimilação e padronização da língua em um determinado país, entretanto, cabe ao educador, traçar a melhor maneira para exemplificar e transmitir a norma culta sem “atropelar” a forma coloquial substituindo-a gradativamente para que o indivíduo não frustre a aquisição da nova gramática.
Diante do que foi apresentado podemos dizer que a gramática como um todo é a representação gráfica da fala, claro que esta representação não retrata com fidelidade a pronuncia da forma que se deseja transmitir, por exemplo, se escrevermos uma palavra, ela não será capaz de mostrar o sentimento que queremos, a palavra “socorro” pode ser um pedido de ajuda ou um nome próprio e a palavra “fogo” tem várias maneiras de ser interpretada, com vários sentido, no entanto, a escrita tem pouquíssimas, formas de expressá-la, ficando a critério do autor, escrever o sentido que o leitor deverá exprimi-la.

Um fato que se deve levar em consideração é que a idade da escrita é muito inferior à idade da língua e mesmo assim os seres humanos conseguiam se comunicar, formar sociedades organizadas sem o intermédio da escrita e, ainda hoje, as pessoas “nascem, crescem e morrem sem jamais aprender a ler e escrever e, no entanto, ninguém pode negar que são falantes perfeitamente competentes de suas línguas maternas”.

Vale salientar que a gramática foi estabelecida com o compromisso de analisar as normas da língua escrita com o objetivo de resguardar as formas mais corretas e elegantes da línguagem literária, uma vez que o significado da palavra “gramática”, de origem grega, é a “arte de escrever” e não havendo elo com a forma oral.

Concluímos então que, tanto a língua quanto a fala, merecem o mesmo tratamento e se por um lado a gramática nos impõe seus símbolos e regras por outro o senso de liberdade de expressão nos tornam livres para deliberar a melhor maneira e convivência para aprimorar a escrita sem desvalorizar suas variações lingüísticas.

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